quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Uma nova pintura

Acaba de sair uma pesquisa revelando que o número de divórcio aumentou. Triste. PORÉM em tudo na vida há um lado bom, um lado Poliana. Há tempos quero escrever sobre isso e a pesquisa me motivou de vez. Dificilmente falo sobre os meus relacionamentos por aqui, mas hoje abrirei uma exceção. O assunto concede. 

Os chavões ditos sobre o divórcio não são apenas chavões são verdades, doídas, mas verdades. O divórcio é sim como um luto. O divórcio realmente é um divisor de águas. Vivi isso. Um luto. O mar se abrindo e depois levando embora tudo o que se foi sonhado ... porém, como na bíblia, após essa ruptura, o mar volta ao nível normal e a vida segue seu curso com nuances diferentes, não melhores ou piores, mas diferentes. 

Você dorme com um calendário, no qual as datas, as semanas, os meses estão preenchidos, projetados, planejados. Dorme. Acorda com uma página em branco para ser escrita. O detalhe é que não lhe avisaram antes que você precisaria de lápis, borracha e cor para pintar uma nova aquarela. Isso é uma separação.

Entretanto, 

No meio da dor há uma luz. Talvez a única. Transformar aquela dor em algo útil. Em alimento que sustenta, ergue, levanta e dá cor à pele. O exercício, inicialmente, não é fácil ... qual exercício na primeira semana é tranquilo? Quando você começa a observar os resultados ... encara mais meia hora, uma hora e quando se dá conta está em uma maratona.

Dor em aprendizado. Fiz isso. Tentei fazer e hoje, três anos após o divórcio, tive a exata noção do quanto isso foi fundamental em minha vida.

Com a separação vi que nem toda verdade é verdade. Como a verdade é subjetiva. Como tudo é subjetivo. 

Com o divórcio aqueles pré-conceitos - frutos da religião, educação familiar, imposições da sociedade - foram largados no meio do caminho. Era isso ou continuar sofrendo. Não havia opção.

Com a separação vi que fidelidade é uma opção, não obrigação, mas opção do outro e sua (opção diária, ALIAS) e casais que conseguem conviver sem ela não são mais ou menos felizes (ou mais ou menos certos), assim como, aqueles que não conseguer ficar juntos sem fidelidade também não são. É opção. Livre arbítrio, como compreendi o significado dessa palavra. Ao compreender calei minha boca nos julgamentos.

Com o divórcio descobri que o ex-marido não era o único safado da terra, nem único nem maior. Todos somos. Homens, mulheres, casados, solteiros, enrolados. Mais uma vez, temos a opção de ser mais ou menos safado. Mas a tal sem-vergonhice está em nós. Cabe a nós alimentá-la como um monstrinho ou conviver com ela livremente e enxergá-la com mais naturalidade, tornando-a real (pq ela é real). Sem hipocrisias. Creio que assim conseguimos ser mais fieis e/ou leais.

Também com a separação vi que há dois tipos de homens para as mulheres: nossos pais e os outros homens. Se o pai for exemplar, maravilha. Ele será referência. Caso não seja, também será.

Com a dor do divórcio, as demais dores - exceto as perdas eternas - acabam perdendo a força. Não que doem menos, mas aprendemos a medida da dor, colocamos peso, graduação e valia naquela dor (e como isso nos poupa sofrimento em vão). É isso. Após um divórcio dificilmente sofremos em vão. 

Enfim, com uma separação, a transparência em ser o que realmente se é não tem preço. Você olha para o espelho e sabe quem é você, quem é o outro e, finalmente, é capaz de saber o que não se quer para a sua vida, e, sobretudo, o que se quer dela. Mas isso somente é possível quando a dor for mesma transformada em amadurecimento. Ser aprendiz dos próprios erros e estar disposto a errar novamente, pq somente assim se aprende - nos erros e na dor. Somente assim é possível fazer os primeiros rabiscos de uma nova tela.

Sds!

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