terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mais um pouco das muletas

A vida não se cansa de me dar uma surra.

Acabo de chegar de uma sessão especial de cinema. O filme - Tropa de Elite 2. Especial - a companhia de duas mocinhas. Uma usando muletas e outra, cadeira de rodas.

Entre 18 e 19 anos elas passeavam pelo shopping com a alegria e os medos característicos de sua idade. Uma reclamando da falta de cabelos, a outra da muleta cor-de-rosa. Uma charmosa usando um vestido preto, recém-comprado, a outra, reclamando pq estava de blusa rosa também (assim como sua muleta). Uma querendo ouvir sertanejo e a outra, filosofando com MPB.

Diferentes e tão semelhantes.

Capazes de discutir, com delicadeza e respeito, religião. Cada uma apresentando o ponto de vista de sua crença a respeito da morte e admitindo que a fé, à maneira de cada uma, é conforto certo nos momentos de dor.

Capazes de opinar tão diferentemente sobre música, mas concluindo que tudo é música popular brasileira e que cada região tem sua forma de expressão musical.

Capazes de olhar para o mesmo rapaz e apreciar qualidades distintas e no fim concluir que 'ficariam na boa com ele', seja por motivo A ou B.

Capazes de demonstrar carinho em atitudes completamente diferentes, mas que no fim dizem - "obrigada".

Capazes de expressar suas histórias de vida, seus traumas e pensar que talvez sua doença tenha alguma relação com isso tudo.

O olhar não muda e a forma como riem também não. Já tive 18 anos.

Por vários e vários e vários instantes senti vergonha da pessoa e dos sentimentos que tenho. Isso pq sou rotulada de uma mulher evoluída etc e tal. Imagine se não fosse!!!

Compreensão, aceitação, respeito, espiritualidade, cordialidade, coragem ... vi tudo isso nesta noite.

Elas usavam muletas nos braços e nas pernas, mas não as carregavam nos corações.

São livres ... querem ser livres ... e lutam por isso.

Cheguei em casa e me enviam um SMS agradecendo pela noite, pelo filme, pelo passeio ... Elas não imaginam que eu, pela milésima vez, que devo agradecer. E pela milésima vez vou adormecer chorando por tudo que vivi ao lado delas.

Sds!

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